Se dúvidas ainda existissem na mente moldada de alguns portugueses mais incautos ou, muito particularmente, nuns quantos Benfiquistas mais alienados e distraídos, que mandaria o bom senso, deviam estar mais desconfiados e precavidos em relação a certos figurões que se passeiam por aí, nas avenidas da impunidade e nas ruas da perversão, bem diante dos nossos olhos, elas foram completamente dissipadas ao longo das 5 horas de maratona em que se prolongou esta comissão de inquérito parlamentar ao cidadão LFV, tantas vezes adornado de impoluto e virtuoso, por dívidas contraídas e reestruturadas de muitos milhões nas suas empresas ao Novo Banco, que supostamente seria o banco bom, mas pelos vistos continua a herdar os calotes e as vigarices enfiados num fundo de resolução, que todos nós continuamos escandalosamente a pagar.
A parafernália de empresas criadas a partir de um grupo mãe que lhes deu origem, faz parte habitual da estratégia usada pelos incumpridores, cuja finalidade é distribuir o mal (dívidas acumuladas) pelas freguesias e assim dissimular por estes intrincados labirintos de fuga a responsabilidade de gestões danosas, que sem o escrutínio das autoridades competentes, encontram terreno livre e fértil para a traficância de mais abusos e logros, sem fim e sem controlo, a cuja escola pertencem os infractores diplomados, como LFV, que não gostam de ser confrontados ou encostados à parede, criando-lhes notado incómodo e embaraço quando são chamados a dar explicações, repetindo vezes sem conta os habituais “não sei”, “talvez tenha sido antes ou depois”, “já não me recordo”, pendurados na corda bamba da hipocrisia e da suspeita, porque por mais que eles se esforcem, a bota nunca baterá com a perdigota.
A chegada de LFV ao Benfica não aconteceu por deferência dos Benfiquistas ou por paixão própria que ele tivesse ao clube, por quem, aliás, nunca nutriu grande simpatia, pelo contrário, ela obedeceu a uma imposição dos homens fortes da banca, sobretudo de Ricardo Salgado, o dono disto tudo e do BES, que agora se prova até conseguiu influenciar a eleição de um primeiro-ministro e de um presidente de clube, e tanto num caso como noutro, o propósito não seria de ajudar o país ou o Benfica, mas sim de se aproveitar deles para alargar ainda mais o seu império financeiro.
LFV viu esta sua entrada no Benfica como uma oportunidade de ouro única para implementar os seus esquemas maquiavélicos e as suas estratégias de usurpação, para assim alargar um pouco o garrote e o espartilho em que a sua vida pessoal e das suas empresas se encontravam, pois sabia, até por experiência já adquirida no Alverca, que no mundo do futebol, onde reina a impunidade e nada é escrutinado, ganha-se muito dinheiro facilmente, apesar de se continuar a dizer recorrentemente que os coitadinhos dos presidentes nem sequer são remunerados, como se alguém acreditasse genuinamente nesse voto de pobreza e indigência, quando na verdade sabemos que todos engordam e enriquecem à conta do saque que fazem nos clubes, conduzindo-os inapelavelmente à depauperação e falência.
Para a concretização do seu plano pessoal, houve que criar um núcleo de amigos influentes à sua volta, independentemente de serem ou não Benfiquistas, amigos ou inimigos da águia, pois isso não seria um factor de discriminação na escolha, mais importante será a eficácia da acção e do desempenho para distribuição dos dividendos, que deia lá por onde der, chega sempre para todos.
E se no início da caminhada teve a bênção de Ricardo Salgado, outros acompanham-no nesta peregrinação ao santuário do poder, como DSO, Nuno Gaioso, Jorge Mendes, José António dos Santos, Joaquim Oliveira, Miguel Almeida (NOS), Fernando Gomes (esse mesmo canalha que conseguiu tirar a final da taça de Portugal do Jamor), Paulo Gonçalves, um prestimoso colaborante ainda que agora à distância e Jorge Jesus, o ideólogo das boas comissões.
Foi com esta corja e mais alguns peões de brega menores, que LFV conseguiu transformar o maior clube português, e também o mais eclético, já com 117 anos de história, num entreposto comercial rotativo de negócios obscuros, como uma empresa de accionistas gulosos por quem se distribuem benesses e boas comissões, cujo passivo não se consegue reduzir, e mesmo com as contas maquilhadas e adulteradas, mantém-se em valores altos e perigosos, ainda que a propaganda dos muitos milhões de euros que se facturam na venda de jogadores (como João Félix e Rúben Dias, ambos da formação e que geraram muitos milhões de euros), não impediram a necessidade e a propensão de se recorrer constantemente a receitas antecipadas e a empréstimos obrigacionistas, para o equilíbrio de uma tesouraria em pânico, que vê os encargos e os custos a aumentar, não só por contratos e salários delirantes que se pagam a jogadores e equipas técnicas, mas também das muitas avenças que cobram os chulos e os parasitas que andam a esvoaçar à sua volta.
No actual Benfica a paixão e a mística esmoreceram, o clubismo e a militância definharam, o compromisso e a exigência claudicaram, o sócio genuíno e o adepto ferrenho passaram agora a ser clientes (partners) que nem sabem bem o que isso é e para que serve, afastados que foram do fervor das bancadas e do empolgamento das vicissitudes do jogo, hoje mais consumistas do merchandising distante e frio do 5G, que lhes desvia o olhares para o telemóvel e lhes ocupa as mãos, que já nem para bater palmas, agitar bandeiras ou cachecóis servem, pois a desumanidade de empresariar um clube até os faz virar as costas e a atenção ao jogo, pois as vitórias parecem já não ser o motivo principal de estarem ali e o resultado final pouco importará na contabilidade do desinteresse e do desapego que mostram, apanhados nesta onda de descaracterização e adulteração voraz das suas vontades próprias, que já nem se levantam e se empertigam contra as ofensas continuadas e perpetradas contra o Benfica de Cosme Damião.
LFV foi obrigado a expor-se em directo, naquela maldita comissão parlamentar de inquérito, que tanto temia e odiava, e já por uma vez tinha adiado, porque sabia e conhecia as suas fragilidades de defesa, perante o óbvio das tramoias que protagonizou e que sobre ele pendiam, e o impostor que nas assembleias gerais do Benfica gosta de mostrar as suas garras de tirano prepotente, apertando o pescoço a sócios incómodos, ali amochou e teve de meter o rabinho entre as pernas, deixando uma imagem degradante de um imbecil assustado e atrapalhado, própria de um analfabeto que só está licenciado e talhado para os indecoros da vigarice e da trafulhice, ficando por saber como é que um canalha desta estirpe consegue chegar a presidente do Benfica e por lá se manter há quase duas décadas, sem ser questionado e importunado.
A coisa correu-lhe francamente mal.
Completamente aos papéis e mal preparado na sua pouco consistente e anárquica argumentação, por constantes interrupções para trocar cochichos privados com o seu advogado de defesa, provavelmente pensando com os seus botões, que se sentiria mais cómodo e protegido, se no lugar de estar no parlamento e questionado por deputados de vários quadrantes políticos, respondesse apenas a perguntas previamente combinadas, nos estúdios da BTV, por avençados de um só credo.
LFV tem muitos telhados de vidro, já sabíamos, e muitos rabos-de-palha, já desconfiávamos, daí os silêncios ensurdecedores a que por vezes se submete, pois os vigaristas são todos iguais, bebem pelo mesmo copo e comem pela mesma gamela, e esta de apresentar um velho palheiro com logradouro como património declarado fora das offshores, faz lembrar a velha táctica de Joe Berardo, que também só possuía uma pindérica garagem, com vista para o mar, na ilha da Madeira.
É preciso ter lata!
Amo-te, Benfica!
José Reis
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