A vir para o Benfica, Edinson Cavani chegaria sempre envolto num manto de dúvidas e desconfianças, por na verdade ele nunca ter demonstrado muita vontade em querer vir para o Benfica, apenas estava expectante em saber, ao certo, o que é que o mercado lhe ditava, e só em última instância, após esgotadas todas as outras hipóteses pretendidas e mais de acordo com os seus interesses, teria uma certa condescendência em olhar para um Benfica em crise e liderado por um presidente com cara de Kadafi, para auscultar o que este lhe podia oferecer de diferente ao que contratualmente não estivesse habituado o ex-príncipe do Champs Élysées.
Inebriado por uma repentina onda despesista, que na verdade só tem beneficiado Jorge Jesus, por comparação com outros treinadores que por aqui passaram e não tiveram tanta sorte, como foram os casos de Trapattoni, Rui Vitória e Bruno Lage, ainda assim todos eles campeões apesar da pouca matéria-prima que dispunham, estará agora disposto a abrir os cordões à bolsa e fazer um esforço financeiro suplementar para construir um plantel forte e competitivo, capaz de arrasar cá dentro e fazer furor lá fora, porque a grandeza e o prestígio do Benfica a isso o obriga ou, pelo contrário, a proximidade das eleições e o receio de as vir perder no escrutínio inequívoco dos votos, é que o leva, em desespero de causa, a arriscar tudo e a colocar o pescoço no cepo, só para garantir continuar sentado na cadeira de presidente?
Os Benfiquistas já perceberam o que é mais importante para LFV e o que o faz mover, neste momento tão conturbado da sua presidência e a pagar a factura de um acentuado défice de popularidade, numa época atípica em que tudo se perdeu e nada se ganhou, em claro contraciclo e a despeito daquela que deve ser a natureza e o desígnio do Benfica.
O Benfica foi e tem sido usado como isco no engodo de Cavani, e nesta estratégia de pescaria familiar, jogador e empresário estão na expectativa de que passe um tubarão ali por perto e abocanhe de vez o destino da paciência, protelando no tempo uma resolução que se exigia mais adulta e se pedia mais conclusiva, mais parecendo uma brincadeira de crianças, a negociarem entre si, o maior quinhão de guloseimas, quando se sabe que o mercado está parado e não se coaduna para grandes aventuras, por culpa de um vírus que continua por cá e não irá embora tão cedo.
Nenhum jogador é mais importante que o Benfica e nenhum acto eleitoral justifica tamanha persistência e teimosia, a ponto de deixar um clube paralisado e entretido com estas minudências e detalhes ao minuto e ao segundo, para gáudio de uma comunicação social avençada, sem nada para editar e que vai alimentando até ao enjoo, este folhetim romanceado em capítulos diários, sendo justo dizer, para o caso em questão, que nem o pai morre nem a gente almoça.
Quem não deve estar a achar piada nenhuma ao rumo dos acontecimentos, é seguramente o treinador Jorge Jesus, que dentro de poucos dias, já estará a braços com uma pré-eliminátória de importância fulcral no acesso à liga dos campeões (disputada a um só jogo e no palco ainda por sortear), constatando-se que o plantel ainda está longe de estar completo e encerrado, pois haverá jogadores para saírem e outros, porventura, para entrarem, quando se andou uma eternidade neste “affaire Cavani”, que sempre se mostrou algo renitente em vir representar o Benfica, sob pena de se deixar esboroar boas oportunidades para trazer outros, não com tanto nome, mas com mais disponibilidade para virem.
Se o Benfica não ganhar todas as provas domésticas e não fizer boa figura na liga dos campeões, então Jorge Jesus e LFV (se ainda lá estiver…) podem amarrar uma pedra ao pescoço e atirarem-se ao rio Tejo, pois não haverá nenhum Benfiquista que se preze que se atire à água para os salvar.
É que depois de tantas promessas, decepções e frustrações, a tolerância só pode ser mesmo zero!
Amo-te, Benfica!
José Reis