E o que está agora a acontecer com Bruno Lage, ocorrerá com qualquer outro treinador que não se imponha a esta direcção ambígua, falsa e impiedosa...
A tal estrutura endeusada, embevecida pelos encantamentos das sereias e das ninfas do paraíso, e pelo embalo mirífico nos braços de Morfeu, que vai 10 anos adiante de um sol de inverno e uns meses de avanço a uma lua em quarto minguante, já não disfarça o incómodo e destemperado mal-estar, de mais uma época sem planeamento, feita à martelo e à sorrelfa, em cima do joelho, com as consequências malditas e perversas que agora estão todas a vir à tona de água, ao ponto de, em inícios de Outubro, o Benfica já estar perante uma encruzilhada de dúvidas e inseguranças, em que o que pode vir a perder é mais certo e plausível do que o que pode vir a ganhar.
Bruno Lage - quem o viu e quem o vê -, lavra hoje numa baderna de disparates e equívocos, porque caiu no engodo de aceitar promessas sem se certificar de que elas seriam cumpridas, e se no início ele fazia questão de ter plantel competitivo, com dois jogadores de qualidades para cada posição, o que lhe foi dado foi uma manta de retalhos, com sobras de jogadores que eram para sair e não saíram e com a utopia minguada de outros que eram para entrar e não entraram, pretensão de todo ajustada e compreensível, até porque, a conjuntura financeira do clube era favorável à consumação desse desígnio, mas ao invés, o desinvestimento na equipa de futebol repetiu-se descaradamente mais uma vez, contrariando o discurso oficial da propaganda da mentira.
E não foi inocentemente que se lançaram frases ao vento, numa espécie de editais afixados às portas do estádio, referindo para que toda a gente tivesse conhecimento, que “a Bruno Lage foram-lhe dadas todas as condições pedidas para construir um plantel competitivo para atacar todas as frentes(?), como se isso fosse verdadeiro e não um logro calculado, de alguém que quer sacudir a água do capote e descartar-se das responsabilidades de eventuais insucessos, colocando no treinador toda a carga de culpas no cartório e no ponto de mira de que vai ser ele a pagar as favas todas.
Bruno Lage, já percebeu que está sozinho e isolado nesta luta hercúlea, e que Rui Costa, DSO, Tiago Pinto ou LFV, observam-no de longe, de cadeirinha, para verem no que isto vai dar, tal como um bando de abutres que esperam pacientemente pela sua hora da sua refeição.
Bruno Lage, já devia estar vacinado de saber, que o canibalismo do mundo do futebol é muito diferente da doçura ingénua do canal Panda que partilha em casa com o seu filho menor.
E falhou quando preferiu manter o estatuto de treinador principal sempre na sombra de uma interinidade falseada e nunca abandonada, do que ter posto os pontos nos is, logo de início quando pegou na equipa, fazendo valer os seus argumentos e convicções.
E o que está agora a acontecer com Bruno Lage, ocorrerá com qualquer outro treinador que não se imponha a esta direcção ambígua, falsa e impiedosa, que para salvar a sua pele não hesitará em enforcar, na praça pública, qualquer incauto treinador, que pense mais no seu salário e menos na honorabilidade da sua palavra e do seu profissionalismo.
Bruno Lage e a equipa sentem-se hoje órfãos de Jonas e, obviamente, de João Félix, cujas saídas não foram colmatadas e não o serão tão cedo, porque o puto maravilha, protagonizava em campo, a irreverência, o atrevimento e a alegria, que o seu futebol mágico e imprevisível emprestava à equipa, secundado por Jonas, não já tantas vezes lá dentro das quatro linhas, mas no banco ou no balneário, com a sua sobriedade e carácter humanos que unia e chamava todos para o compromisso da vitória.
Tudo isso se perdeu, e hoje a equipa anda triste e sem alma, a bola queima nos pés, não sai redonda e emperra na engrenagem pouco oleada do conjunto, sempre à procura de um desenho táctico que consiga dar a volta à monotonia e o enfado que já se alastrou às bancadas descrentes e ansiosas, por não perceberem ainda aquilo que lhes está a acontecer mesmo à frente dos olhos, e que até ao momento, Bruno Lage não tem sabido inverter.
Amo-te, Benfica!
José Reis