Caros e esforçados sócios e adeptos do Benfica!
Mantenham-se tranquilos e confiantes, pois o nosso adorado presidente e o nosso excelso treinador sabem o que estão a fazer e por isso já estão reunidos a preparar minuciosamente a próxima época, como se desta que está prestes a acabar não houvesse nenhum reparo a fazer ou a mínima crítica a apontar, pois a esponja da memória curta absorve tudo num instante, como se as responsabilidades fossem órfãs de pais incógnitos que se esquivam ao pagamento devido da pensão, porque um saiu para comprar tabaco e não se tem visto ultimamente nas bancadas, e o outro, gastou todos os milhões no casino e agora vive do rendimento mínimo da tolerância.
Caros e abnegados sócios e adeptos do Benfica!
Mantenham-se calmos e resilientes, pois no rescaldo desta estrepitosa tempestade, com ventos cruzados e chuvas diluvianas, nada abalará esta direcção 10 anos à frente, no terceiro lugar com 12 pontos atrás, porque o discernimento e a coesão dos seus elementos nunca os desviará do rumo traçado, que a avaliar pelo mapa dos dois últimos anos, será mais o do precipício que o da glória, neste haraquíri de expectativas criadas que faz lembrar aquele paraquedas que não abre antes de bater violentamente no chão da realidade, e o que não tem remédio remediado está, pois o que matematicamente está perdido nem a arrogância e a bazófia, por muito enfatizadas que sejam, conseguem alterar, e neste carpir de mágoas e desilusões sempre aparecem os calados e os capristanos desta vida, com trajes coloridos de arlequim, para nos exasperar a rir e colocar a moral despedaçada em alta.
Caros e dedicados sócios e adeptos do Benfica!
Mantenham-se serenos e diligentes, pois o culto divino ao vieirismo há-de mover montanhas e secar oceanos, mesmo ao arrepio da profecia de Maomé e do plano salvífico da arca de Noé, para vir em socorro do Benfica à imagem deles, que elegeram o traidor e caucionaram o regresso do impostor, com a mesma leveza e leviandade com que se transforma um clube centenário eclético numa empresa mercantilista a retalho, onde o sócio perdeu condição e o cliente ganhou estatuto, num plano maquiavélico de saque e usurpação aos valores e princípios originais deixados por Cosme Damião, em que a paixão esmoreceu perante a indecência da ganância e a mística se perdeu perante a desfaçatez do laxismo e da incúria, e se tudo isto já não bastasse e nos doesse, mais nos dói e entristece saber que já não há um Coluna, um Eusébio, um Borges Coutinho ou um Artur Semedo, que nos contassem de viva voz todos os feitos gloriosos que foram dilatando o palmarés de conquistas e o bornal de gratas memórias.
Caros e empenhados sócios e adeptos do Benfica!
Mantenham-se quietos e esperançosos, pois a hegemonia que tanto se apregoava, como sardinhas e carapaus frescos acabados de chegar da lota, trazidos por uma furgoneta de caixa aberta, accionada por um motor à manivela, numa espécie de pseudo-refundação do clube, mais não foi que um ar que lhe deu, e nem mesmo as varinas avençadas que ainda hoje andam de canastra à cabeça, já pouco acreditam na mercadoria que impingem, porque as aparências iludem os fracos e os factos desmentem os mentirosos, e se a bola por norma esbarra na incompetência e resvala para o canto da hipocrisia e da demagogia, então o melhor é que ela faça ricochete na má consciência de alguns e se aniche de vez no traseiro de certos farsantes, que como palermas e idiotas que são, adoram lamber as botas antes de festejar os golos na própria baliza.
Amo-te, Benfica!
José Reis
Adenda;
Apesar desta prosa ter sido escrita antes de acabar o campeonato, continua actual...infelizmente!!!
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