E pronto; a premonição de Bruno Laje concretizou-se! Esfumaram-se os sete pontos de avanço, estamos em segundo lugar com um ponto de atraso e a equipa joga miseravelmente. Uau!
Não sei ao certo que causas levaram a esta crise e, apesar de não me atribuir qualquer capacidade invulgar para as descortinar há coisas que me parecem óbvias que poderão ter contribuído para tal.Assim:
A causa primordial reside no deficiente planeamento desportivo da época, algo, afinal, recorrente.
Há posições deficitárias; estão elas no flanco direito, no eixo da defesa, no meio-campo e no ataque.
As segundas opções não estão a funcionar.
Apesar das qualidades de Tomás Tavares - um jovem conterrâneo com 19 anos acabados de fazer -, entregar-lhe todo o flanco direito, como tem acontecido, é uma insensatez; para a equipa e para ele.
Ontem vimo-lo a defesa direito, a Central, a defesa-esquerdo e a extremo-direito! Uma barbaridade incompreensível numa equipa com as ambições do Benfica.
Nem a já conhecida lesão do André Almeida - fez, lesionado, a ponta final da época anterior - nem a saída de Sálvio, convenceram a Direção a reforçar o setor; no mínimo, teríamos de ter contratado um extremo-direito de raiz. Uma gazua, como era o Sálvio.
Quanto ao terceiro central, contou-se com o bom do Jardel, porém, ao primeiro jogo lesionou-se de tal forma - parece tratar-se de uma recidiva - que ficámos sem opções. Entretanto, sacrifica-se o Ferro e a equipa arriscando o futuro do jogador ao obrigá-lo a jogar em baixa de forma.
É verdade que a lesão do Gabriel era imprevisível, apesar de o seu estilo de jogo - muito físico - o tornar vulnerável às lesões, nada fazia supor uma lesão como a que ocorreu. E, também é verdade que há um Benfica com Gabriel e outro sem Gabriel. Quer isto dizer que, com Gabriel a jogar, esta crise não teria ocorrido. Porém, o plano B para o setor, não está a funcionar; falta-lhe músculo e criatividade.
Vinícius, uma contratação algo polémica, revelou-se um bom ponta-de-lança, mas carece do apoio dum segundo avançado. Geralmente tem dois a três centrais a marcá-lo. Raúl de Tomás, sendo um bom jogador - não tenho dúvidas -, talentoso e esforçado, não se adaptou à equipa.
Diga-se de passagem que há demasiados casos de contratações falhadas; ou trata-se de erros de avaliação técnica do departamento de scouting ou de incapacidade das equipas técnicas perceberem as qualidades dos jogadores e os encaixarem na equipa. Reconheça-se porém que o risco de erro é quase sempre alto, o que nos leva à questão primordial que consiste na necessidade de identificar os fatores de risco das contratações e tê-los em conta.
Veio Janeiro, Gedson saiu - nos jogos, percebia-se que algo tinha mudado nele - recusou-se Gaitan, a gazua de que precisávamos para a ala esquerda, que cria desequilíbrios, sabe centrar com precisão e funcionaria como fator motivacional para toda a equipa. Abortou-se a contratação de Bruno Guimarães, ao que consta, por uns míseros 2 milhões de euros, que, por sinal, anda a dar cartas em França, no Lyon, e, com toda a certeza, teria feito a diferença!
Entretanto desbarataram-se uns milhões no Vitória de Setúbal e no Boavista, contrataram-se jogadores estrangeiros - que nem foram vistos por aqui -, e a SAD tem nos quadros cerca de 140 jogadores! Isto não pode continuar; inflacionar os quadros e financiar clubes que prejudicam o Benfica é algo que deve acabar.
Como se vê pelo resumo das contas do primeiro semestre da época em curso havia capacidade financeira para reforçar a equipa. Porque não se o fez?
Chegou a altura de fazer a pergunta maldita: os dirigentes do Benfica têm mesmo intenção de ganhar o campeonato?
Voltemos agora à “premonição” de Bruno Laje quando ainda estávamos sete pontos à frente do segundo classificado. Não se faz! Funciona como fator desmotivacional! Com efeito, é uma forma de lançar a dúvida e a resignação na equipa o que se reflete no campo. Um líder deveria fazer o contrário; manifestar confiança plena na equipa, sem bazófias, mas com convicção. Os jogadores entenderiam a mensagem e transcender-se-iam.
Quanto à disposição tática da equipa, sendo certo que, em geral, os adversários, se apresentam com formações hiperdefensivas - num dos últimos jogos reparei que a equipa em confronto tinha sete defesas em linha; três centrais e quatro laterais -, não entendo porque não se aposta nas alas. Geralmente a equipa tem apenas o flanco esquerdo a funcionar o que conduz ao desgaste físico prematuro do respetivo extremo e ao declínio da capacidade defensiva. Do lado contrário, não há extremo; quando muito, o Tomás Tavares sobe até à intermediária contrária donde faz “maravilhosos” cruzamentos para…as mãos do guarda-redes deixando exposto todo o corredor nas suas costas! Nuno Tavares, David Tavares, Zivkovik; entre eles não haverá melhor opção? Desconfio que sim.
O jogo da equipa carece de disciplina na ocupação do terreno, dinâmica e sincronismo, criatividade, fluidez, intensidade e qualidade, na meia-distância, nos centros e nos cruzamentos. A capacidade individual dos jogadores é superior ao que revelam no campo. É a minha convicção. Talvez um choque motivacional os recomponha e a equipa volte a jogar o que sabe. Quem será capaz de o fazer? Tem a palavra o líder.
Finalmente, um comentário para a comunicação social desportiva: ainda está fresco na nossa memória o coro de indignação geral que ocorreu na sequência de goleadas com que o Benfica presenteava os adversários. Que não podia ser, que havia um défice de competitividade no futebol português, que era uma vergonha, que tínhamos voltado ao salazarismo, etc. etc. Pois agora devem estar satisfeitos; com o Benfica “de rastos” o futebol português voltou a ser competitivo, revelando a eficácia da democracia.
Isto é, atualmente, por preconceito político, não há lugar para o grande Benfica. Só um Benfiquinha é compatível com os padrões desta terceira República! O futebol de hoje é uma metáfora do país atual vergado ao politicamente correto, à imposição do nivelamento por baixo, ao oportunismo de gente sem escrúpulos que se vitimiza para tirar vantagem, à hipocrisia e à demagogia.
Contudo, ainda há esperança; assim o líder o entenda.
Uma última palavra para as contas do primeiro semestre desta época; fantásticas! Uma autêntica revolução no Benfica e no desporto nacional. Deveria ter sido primeira página de todos os jornais, tal a relevância do acontecimento. Perante um universo de clubes falidos, sobre endividados e de baixo cash-flow, o Benfica fez uma revolução. Parabéns. Sem boas contas não há sucesso desportivo sustentável. Veremos agora se a saúde financeira se vai refletir na competitividade europeia da equipa de futebol sénior.
(sobre isto tratarei noutro texto)
Peniche, 8 de Março de 2020
António Barreto
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