Esta tarde encontrei no Pingo Doce o Campeão Latino José Bastos com a sua simpática esposa.
Já antes, aquando do funeral do SARAIVA, Campeão Europeu, tinha estado com ele mais uns quantos Monstros Sagrados. Foi uma agradável conversa e deu para constatar que a mulher do Bastos é um verdadeiro livro de memórias.
Como homenagem ao grande Campeão e Benfiquista sofredor, edito aqui no blogue uma entrevista que em tempos deu ao Record.
23 de maio de 1961. É uma data que fica para a história. Foi o primeiro jogo de Eusébio com a camisola do Benfica frente ao Atlético. O King fez 3 golos e os encarnados ganharam por 4-2.
RECORD – O jogo de estreia de Eusébio foi há mais de meio século. Como se sentiu ao sofrer três golos daquele que mais tarde seria o melhor jogador de sempre?
JOSÉ BASTOS – Devo dizer que até ao princípio dessa época 1960-1961 estava a treinar-me no Benfica e assisti aos primeiros treinos de Eusébio. Ele já dava claras indicações que poderia vir a ser um avançado temível. Tinha um forte remate. E nessa altura todos nós sabíamos que mais tarde ou mais cedo alguém teria de sair para ele entrar.
R – Mas de concreto do que se lembra desse encontro?
JB – Foi um jogo particular que serviu para a apresentação do Eusébio. Os jogadores do Benfica receberam as faixas de campeões nacionais e depois houve o tal encontro com o Atlético, que era da 1.ª Divisão e tinha uma equipa muito jeitosa.
R – E você foi o primeiro guarda-redes a sofrer golos do Pantera Negra. Foram logo três...
JB – O Eusébio jogou muito bem e as atenções estavam voltadas para ele. Como disse, já sabíamos das suas qualidades, mas nunca pensámos que ele fosse tão bom nos jogos como nos treinos. Afinal, ele era mesmo demolidor, marcava bem a diferença.
R – O que mais o surpreendeu no Eusébio?
JB – Um poder de remate brutal e uma grande capacidade de aceleração com bola. Uma coisa nunca vista em Portugal.
R – A defesa do Atlético não terá comprometido em demasia?
JB – Nada disso. Tínhamos um grande orgulho e uma boa equipa. Naquele ano quem estava à frente do Atlético era um treinador espanhol, Manolo Ibáñez, que nos incutiu um espírito de luta. E até marcámos dois golos no Estádio da Luz.
R – O Eusébio era difícil de marcar?
JB – Para ser sincero, o Eusébio nem precisava de chegar perto da baliza para fazer golo. Na zona do meio-campo arrancava em velocidade, passava pelos adversários, ganhava vantagem e aí a 20 metros da baliza chutava com toda a força. Não estava para ali a fazer fintas e mais fintas à espera de um deslize do oponente.
R – Lembra-se das palavras do treinador do Atlético ao intervalo?
JB – Só queríamos pensar que aquilo que estava a acontecer não se iria repetir na segunda parte, mas o pior é que aconteceu. Depois o Eusébio decidiu abrir o livro e partiu a loiça toda.
R – Ficou com a ideia que foi mal batido?
JB – Sei que fiz uma boa exibição e estava numa boa forma. Depois até se passou uma coisa muito curiosa. O Bella Guttmann era treinador do Benfica e viu-me depois em alguns jogos, pedindo mais tarde ao dirigente Gastão Silva para me contratar. Mal ele sabia que tinha dado ordens para eu sair da Luz quando contraí uma lesão no pulso e fiquei parado durante quase um ano.
R – A imagem de marca de Eusébio ficou logo presente no jogo de estreia?
JB – Desde o início. Ele era um rematador nato por excelência. Nessa altura, os guarda-redes não tinham luvas e recordo-me que no final do jogo fiquei com as minhas mãos dormentes tal era a violência dos remates do Eusébio, algo nunca visto. E toda a gente sabia que eu tinha umas mãos seguras.
R – Como era essa rivalidade com o Costa Pereira?
JB – Éramos muito amigos e até cheguei a dizer ao Otto Glória uma vez para ele colocar o Costa Pereira no meu lugar quando era titular. Mas o senhor Otto Glória disse-me que o Benfica só tinha 1 ponto de vantagem sobre o FC Porto e era muito importante a equipa ganhar o jogo fora frente ao V. Setúbal. Além disso, alertou-me para outra coisa. Se o Costa Pereira falhasse nesse jogo, teria toda a massa associativa contra ele...
Já antes, aquando do funeral do SARAIVA, Campeão Europeu, tinha estado com ele mais uns quantos Monstros Sagrados. Foi uma agradável conversa e deu para constatar que a mulher do Bastos é um verdadeiro livro de memórias.
Como homenagem ao grande Campeão e Benfiquista sofredor, edito aqui no blogue uma entrevista que em tempos deu ao Record.
JOSÉ BASTOS: «AS MINHAS MÃOS FICARAM DORMENTES»
PRIMEIRO GUARDA-REDES A SOFRER GOLO DO KING EM PORTUGAL
23 de maio de 1961. É uma data que fica para a história. Foi o primeiro jogo de Eusébio com a camisola do Benfica frente ao Atlético. O King fez 3 golos e os encarnados ganharam por 4-2.
RECORD – O jogo de estreia de Eusébio foi há mais de meio século. Como se sentiu ao sofrer três golos daquele que mais tarde seria o melhor jogador de sempre?
JOSÉ BASTOS – Devo dizer que até ao princípio dessa época 1960-1961 estava a treinar-me no Benfica e assisti aos primeiros treinos de Eusébio. Ele já dava claras indicações que poderia vir a ser um avançado temível. Tinha um forte remate. E nessa altura todos nós sabíamos que mais tarde ou mais cedo alguém teria de sair para ele entrar.
R – Mas de concreto do que se lembra desse encontro?
JB – Foi um jogo particular que serviu para a apresentação do Eusébio. Os jogadores do Benfica receberam as faixas de campeões nacionais e depois houve o tal encontro com o Atlético, que era da 1.ª Divisão e tinha uma equipa muito jeitosa.
R – E você foi o primeiro guarda-redes a sofrer golos do Pantera Negra. Foram logo três...
JB – O Eusébio jogou muito bem e as atenções estavam voltadas para ele. Como disse, já sabíamos das suas qualidades, mas nunca pensámos que ele fosse tão bom nos jogos como nos treinos. Afinal, ele era mesmo demolidor, marcava bem a diferença.
R – O que mais o surpreendeu no Eusébio?
JB – Um poder de remate brutal e uma grande capacidade de aceleração com bola. Uma coisa nunca vista em Portugal.
R – A defesa do Atlético não terá comprometido em demasia?
JB – Nada disso. Tínhamos um grande orgulho e uma boa equipa. Naquele ano quem estava à frente do Atlético era um treinador espanhol, Manolo Ibáñez, que nos incutiu um espírito de luta. E até marcámos dois golos no Estádio da Luz.
R – O Eusébio era difícil de marcar?
JB – Para ser sincero, o Eusébio nem precisava de chegar perto da baliza para fazer golo. Na zona do meio-campo arrancava em velocidade, passava pelos adversários, ganhava vantagem e aí a 20 metros da baliza chutava com toda a força. Não estava para ali a fazer fintas e mais fintas à espera de um deslize do oponente.
R – Lembra-se das palavras do treinador do Atlético ao intervalo?
JB – Só queríamos pensar que aquilo que estava a acontecer não se iria repetir na segunda parte, mas o pior é que aconteceu. Depois o Eusébio decidiu abrir o livro e partiu a loiça toda.
R – Ficou com a ideia que foi mal batido?
JB – Sei que fiz uma boa exibição e estava numa boa forma. Depois até se passou uma coisa muito curiosa. O Bella Guttmann era treinador do Benfica e viu-me depois em alguns jogos, pedindo mais tarde ao dirigente Gastão Silva para me contratar. Mal ele sabia que tinha dado ordens para eu sair da Luz quando contraí uma lesão no pulso e fiquei parado durante quase um ano.
R – A imagem de marca de Eusébio ficou logo presente no jogo de estreia?
JB – Desde o início. Ele era um rematador nato por excelência. Nessa altura, os guarda-redes não tinham luvas e recordo-me que no final do jogo fiquei com as minhas mãos dormentes tal era a violência dos remates do Eusébio, algo nunca visto. E toda a gente sabia que eu tinha umas mãos seguras.
R – Como era essa rivalidade com o Costa Pereira?
JB – Éramos muito amigos e até cheguei a dizer ao Otto Glória uma vez para ele colocar o Costa Pereira no meu lugar quando era titular. Mas o senhor Otto Glória disse-me que o Benfica só tinha 1 ponto de vantagem sobre o FC Porto e era muito importante a equipa ganhar o jogo fora frente ao V. Setúbal. Além disso, alertou-me para outra coisa. Se o Costa Pereira falhasse nesse jogo, teria toda a massa associativa contra ele...
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