Chegado o mês de Janeiro, a equipa do Benfica está muito aquém da espectativa criada com o regresso de Jorge Jesus. O futebol de ataque, coordenado, versátil, rápido e criativo ainda não chegou. Pelo contrário, não se vislumbra um modelo de jogo. A disciplina posicional, a articulação dinâmica coletiva, a intensidade e a qualidade de passe, são erráticas. Os resultados são escassos; perdida a entrada na Liga dos campeões deixou-se escapar o primeiro troféu da época, a Supertaça. Ainda na disputa da Taça de Portugal e da Taça da Liga, as aspirações à vitória no campeonato permanecem intactas, mas as expetativas baixaram. Sendo inatacável a competência de Jorge Jesus e avultado o investimento em novos jogadores, alguns deles credenciados, como poderá explicar-se a instabilidade competitiva da equipa?
Antes de mais há que perceber o impacto no treinador resultante da mudança a que se sujeitou. Jorge Jesus atingiu os píncaros da popularidade no Brasil graças à invulgar sucessão de êxitos, entre os quais a desejada Taça Libertadores. Treinador de uma equipa competitiva, o Flamengo, admirado em todo o Brasil, consagrado internacionalmente, Jorge Jesus regressa a um campeonato paroquial, falido, onde abundam e permanecem as velhas e saloias picardias. Com as espectativas de consagração internacional fragilizadas e agravadas pela instabilidade diretiva que se verifica no clube de destino, o Benfica, é natural a emergência dum certo desencantamento e, talvez até, arrependimento. Inevitavelmente, o estado de deslumbramento com que vinha chocou com a mediocridade do estado da arte no velho Portugal e isso refletiu-se no seu ânimo. Talvez Jorge Jesus careça de motivação. Não sei se o atual Benfica e o futebol nacional estará à altura das suas espectativas.
Em segundo lugar está a construir-se uma equipa nova; todos os setores estão em reconstrução. Poucos são os jogadores titulares que transitaram: Odisseyas, Grimaldo, André Almeida, Pizzi, Gabriel, Taarabt e Rafa, sendo que Grimaldo acaba de regressar de lesão, André Almeida continua lesionado, e Gabriel, após recuperar de lesão, contraiu o vírus, tal como sucedeu a Pizzi e Darwin em plenitude de forma. A agravar tudo isso, um calendário desportivo exigente, no clube e nas seleções, retira, ao grupo, disponibilidade para o treino.
Em terceiro lugar os efeitos da pandemia estão a revelar-se particularmente nefastos para o Benfica, diretamente, afetando jogadores nucleares em momentos chave, como foi o caso de Pizzi e Gabriel, em vésperas de jogo com o Porto, e indiretamente, retirando ao coletivo o fator motivacional resultante da ausência de público.
Em quarto lugar neste momento o Benfica carece de liderança eficaz. Com uma situação económico-financeira equilibrada a política de comunicação do clube peca por ausente. Graças a esta política, mantida ao longo dos últimos anos, o espaço público foi totalmente dominados pelos rivais e outros detratores. Ora, se é verdade que só equipas competitivas ganham campeonatos, também é verdade que, no atual contexto do futebol português, isso não é suficiente. Há muito jogo fora das quatro linhas e a vários níveis, começando pelas instituições que supervisionam o futebol, onde a transparência é uma ficção e a atitude persecutória ao Benfica é um facto indesmentível.
Envolto em sucessivos escândalos bancários e judiciais, limitado por múltiplas idiossincrasias, Filipe Vieira é hoje uma pessoa fragilizada perante a opinião pública e grande parte dos benfiquistas, cada vez mais isolado, sem autoridade moral para travar a batalha ética de que o Benfica e o futebol nacional carecem. Tais circunstâncias criaram um ambiente desfavorável,
acentuado pela humilhação do fracasso da contratação do Cavani. As más exibições e os insucessos desportivos imediatos poderão criar um ambiente depressivo que, inevitavelmente, afetará o grupo de trabalho, com possibilidade de emergência de um novo ciclo vicioso. Julgo mesmo que estamos nessa fronteira.
O destino imediato do Benfica reside na capacidade do seu atual treinador reinventar e consolidar o futebol da equipa, e da competência da tão enaltecida estrutura suprimir a contento, no mercado de Janeiro, as posições de que a equipa carece. Desta vez não há margem de erro.
Peniche, 3 de Janeiro de 2021
António Barreto
"Sendo inatacável a competência de Jorge Jesus"...(?)
ResponderEliminarComo é possível afirmar isto?
Só as "viúvas" do Bazófias acreditaram que ele era a salvação do Arguido, incompetente e aldrabão.
Não misture os assuntos. A competência de Jorge Jesus está certificada com títulos, que é o que conta. Goste-se ou não dele. Concorde-se ou não com o seu regresso ao clube. O caso do "basófias" é outro tema, relativamente ao qual já aqui - e noutros locais - publiquei análise extensa e fundamentada.
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